quarta-feira, 13 de agosto de 2014

RUDE MEDICINA


RUDE MEDICINA

A medicina povoeira, há muito esquecida, faz parte dos usos e costumes dos nossos gaúchos


Do autor   /   JUAREZ NUNES DA SILVA - Historiador, escritor e tradicionalista

Medicina povoeira
Medicina povoeira
É  sabido que os médicos da cidade não têm todas as soluções  para os males que azucrinam o corpo do vivente. Os remédios receitados na botica, além de serem caros, nem sempre têm o poder de sarar, mas ajudam os farmacêuticos e os laboratórios.  Agora, os gaúchos que vivem no campo e que vieram para a cidade, têm receitas infalíveis que curam o cristão tão bem que, algumas vezes, o deixam melhor que antes da atempação.

Se o seu mal for verrugas nas pontas dos dedos, campeie uma costela de vaca solta no campo, dessas que o sol e a corvada limpou toda a carne e passe-a em cruz sobre as verrugas, dizendo com fé: "costela, dê um fim a elas". Atire a costela por cima do ombro, sem olhar para trás, mas certifique-se que não há alguém no seu recavem, para não causar um pialo. Três dias depois, as verrugas estão secas, caem e a pele fica lisinha como bundinha de nenê. É tiro e queda!

Uma diarréia não resiste a um chá com folhas de pitangueira, goiabeira e casca de romã. Uma dor de cabeça, daquelas violentas, se cura com rodelas de batata-inglesa crua colocadas na fronte do vivente. Para curar a ressaca, marcela e cipó cabeludo. Diz-se que é bom tomar com canha, mas...

A piazada  sempre ficam irriquieta com a troca dos  dentes de leite. Se estiverem frouxos, arranque-os de forma convencional e se estiverem mui firmes, pegue um canivete e passe na chama da vela e faça a extração. Despues, atire os dentes por cima do rancho e diga por três vezes: "São João, São João, tome este dente podre e me dá um são".  É tão boa esta simpatia que a gurizada vem com uns dentes fortes como de cavalo. Chucrismo puro!

Se o filho ao nascer vier muito miúdo, pequenino como ovo de codorna, pegue a gamela de fazer pão e dê um banho na criaturinha, esticando as pernas do rebento. A criança vai crescer como o pão que trabalha na gamela com o fermento. Mas não deixe a cria muito tempo na gamela, senão, vai sair graúdo e comprido demais. Vai ter despesas com roupas e comida.

Há crianças que demoram para falar. Há dois remédios para isso: arranjar um gogó de bugio que tenha morrido - por que não podemos matar um bugio que esteja comendo fruta no mato. Secar o gogó do bicho em forma de caneca e dar água  para a criança beber. Fica faladeira uma barbaridade. Outro jeito é pegar um pinto no terreiro e fazer ele piar por três vezes dentro da boca da criança. Mas é só três vezes, senão ninguém vai aguentar o tal de tanto falar. Por certo, terá a língua destaramelada e sovada que nem aba de badana...

E quem tem coqueluche, a tal tosse comprida? Simples. Dê-lhe jasmim de cachorro. Onde encontrar? Não é na farmácia e sim nos campos, pois é a bosta seca de cusco, que fica branquinha com o tempo. Fazer em forma de chá, dando de uma sexta-feira a outra, uma porção de manhã e outra de noite. Acreditem, pois é um santo remédio. Se curar, diga-me somente, "gracias"! Se não der certo, procure o médico, por favor!

Ah, para falta de coragem, tome bastante canha, pólvora e pimenta, que, segundo o poeta Jayme Caetano Braun, dá uma  coragem violenta!




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